Funcionário da Vale narra fuga dramática de rompimento de barragem de Brumadinho

Funcionário da Vale narra fuga dramática de rompimento de barragem de Brumadinho

(Reuters) Para Marco Antonio Ribeiro da Silva, técnico em manutenção da mineradora Vale, Deus assumiu a forma de uma caminhonete Toyota Hilux na tarde da última sexta-feira.

Líderes do sindicato de mineiros da cidade de Brumadinho, em Minas Gerais, onde uma barragem de rejeitos se rompeu na sexta-feira, podendo ter soterrado mais de 300 pessoas, descreveram o pai de dois filhos profundamente devoto como um dos sobreviventes mais improváveis do desastre.

Ele é um dos poucos funcionários da Vale que escaparam dos arredores de um refeitório da empresa, que estava lotado quando a barragem estourou na hora do almoço, desencadeando uma onda de lama com rejeitos de mineração que arrasou a instalação.

Em uma entrevista de 45 minutos concedida na terça-feira, Ribeiro, que ficou com cicatrizes nas pernas, em um braço e na omoplata após o acidente, logo atribuiu sua sobrevivência à sua fé cristã, mas até os menos devotos consideram sua história milagrosa.

“No momento em que o desastre aconteceu, estava bem na frente do restaurante”, contou Ribeiro. “Primeiro eu vi água. E depois vi aquela montanha de dois andares e meio de altura desabando sobre nós.”

Ribeiro estava sentado em um quiosque diante da entrada do refeitório, cumprimentando colegas que chegavam. Ele calcula que ninguém que tenha entrado conseguiu sair.

A onda de água inicial parecia o oceano, disse, e a parede de sedimentos que veio em seguida rugia “como uma detonação que nunca termina”.

Ribeiro correu colina abaixo ao lado dos colegas, abrindo caminho rumo à lateral do que se tornaria um rio de lama. Ele chegou a cair enquanto ganhava velocidade, erguer-se e cair de novo.

Na segunda queda ele teve certeza de que era o fim.

“Eu já me dava como morto. Disse ‘misericórdia, misericórdia, misericórdia’ e gritei ‘Jesus, Jesus, Jesus.’ E foi quando ouvi ‘corra para a caminhonete!’.”

Uma caminhonete Toyota com cerca de uma dúzia de colegas apareceu a alguns metros de distância. Ele disse que durante um instante o rio de lama pareceu desacelerar enquanto se chocava com várias edificações.

Levantando-se, ele foi o último a chegar ao veículo, agarrando-se aos colegas enquanto a caminhonete acelerava pela encosta e fugia do perigo.

Ribeiro diz não guardar rancor da Vale, alegando que, pelo que sabe, a empresa sempre priorizou a segurança de seus empregados, mas alertou: “Não existe barragem segura".

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