Professora ganha prêmio com projeto para integrar aluna haitiana com o resto da turma

Professora ganha prêmio com projeto para integrar aluna haitiana com o resto da turma

A haitiana Sonaika, de 6 anos, veio recentemente para o Brasil. Aluna nova no início do ano na Emeb João Batista Toledo, no Jardim Tamoio, ela pouco falava Português e pouco se integrava com o resto da turma. Foi então que a professora Anilza Carla Torres teve uma ideia: um projeto sobre o Haiti que a integrasse com o resto da turma.

"Haiti: Terra da Sonaika" é o nome da iniciativa, que foi trabalhada durante boa parte do ano letivo com os pequenos. A professora conta que, no início do ano, todos os professores precisavam criar um projeto para sua turma, de acordo com a particularidade de cada uma das salas.

"Então pensei em um projeto sobre o Haiti, porque essa era uma particularidade da minha turma. Achei que se as crianças soubessem sobre o lugar que ela veio, ela seria valorizada dentro da sala de aula", contou Anilza.

O projeto, semanal, foi separado em cinco partes. Primeiro, imagens foram mostradas aos alunos, para que eles entendessem o Haiti de forma visual; depois, aprenderam sobre o terremoto de 2010, que destruiu grande parte do país, com consequências até os dias de hoje, sendo o motivo da imigração em massa dos haitianos; por fim, foram inseridos nas brincadeiras, gastronomia e língua do Haiti.

"Logo no começo do projeto, quando mostrei imagens do Haiti, mostrei no mapa, disse que era uma ilha, ela começou a falar uma ou outra palavra em português, soltou o nome de pessoas que ficaram lá, como a bisavó e alguns parentes", continuou a professora.

Lá para junho, Anilza contou que a pequena Sonaika já formava frases e já estava mais integrada com o resto da turma. "Foi um projeto de conversa, eles começavam a perguntar as coisas, ela respondia e aí acontecia a integração. Eles também trocavam conhecimento de palavras em português e em francês".

Um dos dias mais marcantes foi quando a tia da Sonaika, que está no Brasil há mais tempo, cozinhou uma salada típica do Haiti, chamada de pikliz, quase como um vinagrete brasileiro. "As comidas do Brasil e do Haiti são bem parecidas", reiteirou Anilza.

Neste dia, a salada foi servida com a merenda e até mesmo alunos que nunca comem merenda na escola fizeram questão de experimentar. Todos os alunos da turma, sem exceção, experimentaram a salada. Depois, de sobremesa, a professora levou cana de açúcar, muito comum no Haiti.

Professora cria projeto sobre o Haiti para integrar aluna haitiana com resto da turma 3
Alunos provam pikliz, espécie de salada haitiana

Neste dia, a tia da Sonaika também ensinou uma brincadeira para os pequenos que aqui no Brasil é bem conhecida: a dança da cadeira. Cantando em francês, os alunos se divertiram e até mesmo o irmão mais velho da Sonaika, que veio para o Brasil em agosto deste ano, brincou e interagiu junto. 

Para a aluna, foi tudo muito legal e ir para a escola é uma parte muito divertida do seu dia. "Gosto de brincar com as crianças e fazer desenho", disse de maneira tímida à reportagem do Tribuna de Jundiaí.

E os colegas de classe também aprovaram a experiência. "Eu aprendi um monte de coisas e nós brincamos bastante. Foi muito legal a brincadeira da dança da cadeira", disse Estela, de 6 anos.

Já Nicolas, de 6, gostou muito da brincadeira de amarelinha do Haiti, também parecida com a brincadeira que existe no Brasil. "Ela virou nossa amiga, brincamos bastante. Sei que no Haiti teve terremoto e eles falam francês".

Isabelly, de 5, não disfarçou a alegria ao falar da amiga. "A Sonaika é muito minha amiga, a gente brinca de mamãe e filhinha, tenho muita saudade dela quando ela não vem para a escola, adoro muito ela", disse.

Professora cria projeto sobre o Haiti para integrar aluna haitiana com resto da turma 2Sonaika (à esquerda) e colegas brincam e se divertem na escola 

Para a professora tudo isso é muito gratificante, o reconhecimento de anos de profissão. "Sou professora há 24 anos e esse projeto são anos de experiências acumuladas. Hoje a Sonaika ama a escola. Até um tempo atrás ela me perguntava todos os dias se ia ter aula no dia seguinte. Quando era sexta, ela ficava triste porque não ia vir para a escola no dia seguinte".

Por conta do seu projeto, Anilza conquistou a 1a colocação na categoria Educação Infantil I do prêmio "Escola Inovadora", da Prefeitura de Jundiaí. Com isso, ela vai poder desfrutar de uma viagem internacional.

"Eu não sabia que tinha esse prêmio, algumas colegas viram e me falaram. Me inscrevi, mas não pensava em um 1º lugar, no máximo um segundo ou terceiro. Eu fiquei realmente muito feliz", disse. 

E, depois de um ano de projeto, certamente os alunos de 5 e 6 anos já puderam se abrir para outra cultura e acolher a colega Sonaika, que hoje já é parte da turma. Sem dúvidas uma iniciativa inspiradora!

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